Lixão em Caldas Novas escancara cenário de abandono e vulnerabilidade

Deputado Clécio Alves denuncia condições desumanas e cobra fim dos lixões em Goiás

Odor insuportavel, urubus sobrevoando e toneladas de lixo espalhadas ao ar livre. Foi esse o retrato alarmante encontrado pelo deputado estadual Clécio Alves (Republicanos), coordenador da Frente Parlamentar pela Erradicação dos Lixões da Assembleia Legislativa, durante visita ao lixão de Caldas Novas, na zona rural do município, a cerca de 170 km de Goiânia.

A diligência, realizada nesta terça-feira (29), teve como objetivo avaliar se o local está em conformidade com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece o fim dos lixões e determina o tratamento adequado dos resíduos urbanos.

O cenário, no entanto, foi desolador. O lixão recebe diariamente cerca de 90 toneladas de lixo e conta com 59 catadores que trabalham sem qualquer formalização ou estrutura. Muitos deles dizem preferir a informalidade por conta da renda, mas convivem com riscos constantes à saúde, ausência de direitos básicos e um ambiente absolutamente insalubre.

“É inadmissível que, em pleno século 21, ainda existam lugares como esse. É uma situação desumana. Nossa luta é para que todos os municípios goianos encerrem seus lixões e adotem soluções que garantam dignidade, respeito e sustentabilidade”, declarou Clécio Alves.

Durante a visita, o parlamentar ouviu relatos emocionantes. José Aparecido, que trabalha no local há mais de 20 anos, falou sobre a dureza do dia a dia. “É o que sustenta a família, mas a gente carrega tudo nas costas, com carrinho improvisado. Já perdi material valioso e ninguém resolveu nada. É muito sofrido”, contou.

Givanilda do Nascimento, também catadora, desabafou sobre a instabilidade e o desejo de mudanças. “Seria tão bom ter um espaço seguro, organizado, com nossos direitos garantidos. Todo dia é uma luta. Já perdi trabalho por confusão aqui, fui reclamar e nada mudou.”

Realidade inaceitável em uma cidade turística

Para Clécio, a existência de um lixão nessas condições em Caldas Novas, um dos destinos turísticos mais conhecidos do Brasil, é um retrato claro do descaso. “Pessoas do mundo inteiro vêm para cá, atraídas pelas águas quentes. E se deparam com essa situação: lixo a céu aberto, urubus, contaminação do solo e das águas subterrâneas. Isso fere a imagem da cidade e compromete a saúde pública”, afirmou o parlamentar.

Ele ainda destacou que soluções existem, mas faltam vontade política e gestão eficiente. “Cito o exemplo de Rio Verde, que já implantou um sistema de transbordo com destino correto para os resíduos. Caldas Novas também pode avançar, desde que haja compromisso da administração municipal.”

Outro ponto enfatizado foi a necessidade de políticas públicas voltadas aos catadores.

“Eles precisam de dignidade, carteira assinada, segurança. Não é justo que vivam expostos à contaminação, sem qualquer proteção ou respaldo legal”, reforçou.

Clécio Alves afirmou que pretende acionar o Ministério Público para exigir providências imediatas.

“Estamos percorrendo o estado e vamos apresentar um relatório com todas as irregularidades encontradas. Goiás precisa virar essa página. É possível avançar e vamos cobrar isso com firmeza.”

Fiscalizações seguem pelo interior do estado

A visita a Caldas Novas é parte de uma série de fiscalizações da Frente Parlamentar pela Erradicação dos Lixões. O grupo já percorreu seis municípios goianos: Padre Bernardo, Formosa, Santo Antônio do Descoberto, Piracanjuba, Anápolis e Guapó.

De acordo com Clécio, apenas Guapó conta com um aterro sanitário em conformidade com a legislação.

“As demais cidades ainda mantêm lixões abertos, em total desrespeito à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Precisamos virar essa chave.”

Um relatório completo com todas as constatações será entregue ao Ministério Público, ao Governo de Goiás e à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, com recomendações claras para mudanças urgentes.