Se ainda havia dúvidas sobre o perfil político do prefeito Kleber Marra, a manhã desta quarta-feira (06/08) tratou de esclarecê-las de vez. Sem cerimônia, o gestor voltou a nomear seu sobrinho, Rafael Marra, agora como Secretário-Geral de Governo — ignorando completamente uma decisão judicial anterior que já havia determinado sua exoneração por nepotismo.
A atitude escancara o desrespeito do prefeito não apenas à legalidade, mas também à opinião pública e às instituições democráticas.
Relembrando o caso DEMAE
Em 2024, o Ministério Público de Goiás recomendou a exoneração de Rafael Marra, que à época ocupava um cargo de chefia de Diretor presidente do DEMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto). Para contornar a recomendação, a Câmara de Vereadores, em votação acelerada, aprovou uma mudança na Lei Orgânica do Município reclassificando o cargo como “político” — uma tentativa pouco convincente de burlar a Súmula Vinculante nº 13 do STF, que proíbe a nomeação de parentes em cargos comissionados.
A manobra foi considerada “grosseira” e “inconstitucional” pelo Ministério Público. Logo depois, veio a resposta do Judiciário: em decisão liminar, a Justiça entendeu que o cargo era técnico e administrativo, não político, e que a nomeação violava os princípios da moralidade e da impessoalidade. Determinou, assim, a exoneração imediata.
Em 24 horas, três ações contra Rafael
O caso não parou por aí. Em menos de 24 horas, entre os dias 21 e 22 de maio, o Ministério Público ingressou com três ações contra Rafael Marra — duas delas em segredo de Justiça. A primeira cobrava sua saída do DEMAE; as demais investigam supostas irregularidades administrativas e contratuais.
Nos bastidores, o nome de Rafael virou piada pronta: nos grupos de WhatsApp da cidade, já o chamam de “cliente fiel” do Judiciário local. Teve até quem dissesse que ele já pode “pedir música no Fantástico” — e a trilha sonora sugerida foi “Só dá você”, sucesso de Ritchie. Parece mesmo tema oficial da gestão Marra.
Volta por cima — ou por baixo da lei?
Apesar de todo o histórico, e mesmo com uma decisão judicial clara, Kleber Marra resolveu dobrar a aposta. Nomeou Rafael novamente, desta vez para um dos cargos mais estratégicos do governo municipal. Uma decisão que soa como provocação direta ao Ministério Público, ao Poder Judiciário e à sociedade.
Enquanto servidores concursados batalham por anos para conquistar uma vaga por mérito, Caldas Novas segue vendo a máquina pública ser usada como extensão do álbum de família. A impressão é de que, na prefeitura, vale mais o sobrenome que a competência.
Um governo de sobrenomes, não de princípios
A reedição desse enredo reforça a sensação de que a cidade está sendo governada de forma autoritária, onde o interesse público cede lugar à conveniência pessoal. O que deveria ser exceção virou regra. E a legalidade, cada vez mais, virou detalhe.
Caldas Novas assiste, perplexa, a esse reality show político-familiar em que Kleber Marra e Rafael Marra protagonizam cenas dignas de um roteiro de deboche institucional — como se nada nem ninguém pudesse barrar esse jogo de poder.
Embora o decreto de nomeação ainda não tenha sido oficialmente publicado, a informação já está sendo divulgada por fontes próximas à prefeitura.