Bolsonaro derrete após ser denunciado por tentativa de golpe de Estado

Bolsonaro derrete após ser denunciado por tentativa de golpe de Estado

PGR expõe detalhes da trama golpista, incluindo plano de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes; julgamento pode levar à prisão do ex-presidente

A denúncia formalizada na última quarta-feira (18) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos não deixa dúvidas: o ex-presidente comandou um esquema criminoso para impedir a posse de Lula e instalar um regime autoritário no Brasil. A peça, apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF), é baseada em uma investigação minuciosa da Polícia Federal e expõe, com riqueza de detalhes, o planejamento da conspiração e a tentativa de instrumentalizar setores militares e políticos para garantir a permanência de Bolsonaro no poder.

O ex-presidente foi denunciado por tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa armada. Além disso, a PGR aponta que Bolsonaro tinha ciência e não se opôs ao plano de assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. Caso a denúncia seja aceita pela Primeira Turma do STF, Bolsonaro e seus aliados podem se tornar réus ainda em 2025. O ex-presidente, já inelegível, vê seu futuro político e jurídico se tornar cada vez mais incerto.

Leia mais: Plano de matar Lula é o episódio mais hediondo da história recente do Brasil

A denúncia revela que os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 não foram um episódio isolado ou espontâneo, mas a culminação de uma trama meticulosamente planejada ao longo de dois anos. O esquema, batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, previa a instalação de um estado de exceção, com o Congresso fechado e o STF destituído. Documentos, mensagens e depoimentos demonstram como Bolsonaro tentou transformar as Forças Armadas em instrumento de sua permanência no poder.

O documento da PGR também lança luz sobre a chamada “Abin paralela”, um esquema de espionagem ilegal operado dentro do então governo para monitorar adversários políticos e autoridades. Sob comando do então chefe da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem, a estrutura clandestina utilizou softwares de vigilância para coletar informações sigilosas e alimentar a conspiração golpista.

Leia mais: “Abin paralela”: Ramagem orientava Bolsonaro a atacar a democracia, diz PF

Repercussão nas redes

Diversas personalidades políticas se manifestaram nas redes sociais após denúncia apresentada por Paulo Gonet. A deputada federal (PT-PR) e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que “É a verdade falando alto, para que todos paguem por seus crimes (…) Sem anistia!”.

 

Já o deputado federal (PT-RJ) e líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, declarou que “podemos presenciar ainda nesse ano a prisão de Bolsonaro”.

 

O presidente da Embratur e ex-deputado federal Marcelo Freixo também se pronunciou, exibindo uma imagem do que chamou de “Powerpoint do golpe”, ironizando o documento feito em 2016 pelo então procurador da Lava Jato e mais tarde deputado federal cassado, Deltan Dallagnol, acusando Lula de ser chefe de organização criminosa. Freixo restabelece a verdade dos fatos e coloca Bolsonaro nesse lugar central.

 

Linha do tempo da conspiração golpista

Em sua acusação, Gonet traçou uma precisa linha do tempo de toda a trama para a realização do golpe de Estado.

2021 – Primeiros movimentos golpistas

. Agosto: Bolsonaro promove um desfile militar na Esplanada dos Ministérios, ação incomum interpretada como um recado às instituições democráticas. No mesmo mês, ataca o sistema eleitoral e ameaça não reconhecer o resultado das eleições de 2022.

. Setembro: Durante as manifestações de 7 de setembro, Bolsonaro discursa contra o STF, afirmando que não cumprirá decisões judiciais de Alexandre de Moraes. 

2022 – Preparação para a ruptura

. Julho: Bolsonaro convoca embaixadores estrangeiros para desacreditar as urnas eletrônicas, alegando, sem provas, risco de fraude.

. Outubro: Após perder a eleição para Lula no segundo turno, Bolsonaro não reconhece a derrota e se isola no Palácio da Alvorada.

. Novembro: Aliados de Bolsonaro apresentam a chamada “minuta do golpe”, um documento que previa a anulação das eleições e a intervenção das Forças Armadas.

2023 – A tentativa de golpe e seus desdobramentos

. 6 de janeiro: Ex-ministro da Justiça e então secretário de segurança pública do DF, Anderson Torres viaja para os Estados Unidos e deixa a segurança de Brasília fragilizada.

. 8 de janeiro: Manifestantes bolsonaristas invadem e depredam o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF, em uma tentativa de criar o caos e justificar uma intervenção militar.

. Fevereiro: Polícia Federal apreende a minuta do golpe na casa de Anderson Torres, aprofundando a investigação sobre a trama.

Leia mais: ‘A cara do Golpe’: relembre a série da TvPT sobre os crimes de Bolsonaro

A estrutura da organização criminosa

A denúncia de Paulo Gonet também detalha como a tentativa de golpe foi organizada por um grupo coeso e hierárquico, dividido em núcleos. São eles:

Núcleo duro – O “núcleo crucial” da organização criminosa. As principais decisões e ações de impacto social partiram deste grupo, que inclui:

. Jair Bolsonaro;
. Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
. Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;
. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e secretário de Segurança Pública do DF durante o 8 de Janeiro;
Augusto Heleno, general e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
. Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, general e ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército;
Walter Braga Netto, general, ex-ministro da Defesa, ex-chefe da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro;
. Mauro Cid, tenente-coronel e principal ajudante de ordens de Bolsonaro.

Núcleo de gerenciamento de ações – Este grupo tinha como objetivo coordenar as forças policiais e militares para executar as operações do núcleo político.

Integrantes como Silvinei Vasques e Filipe Martins foram responsáveis por sustentar a permanência ilegítima de Bolsonaro no poder, enquanto Mário Fernandes coordenava o monitoramento e a neutralização de autoridades públicas.

Núcleo operacional – Responsável por ações coercitivas, foi integrado por militares como o general Estevam Theophilo e outros membros das forças de segurança pública.

Eles coordenaram ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas, visando a execução do golpe, com apoio de especialistas para pressionar o Alto Comando do Exército.

Núcleo de desinformação – Dedicado à propagação de notícias falsas, com participação de militares como Ailton Barros e Angelo Denicoli.

Eles espalhavam fake news sobre o processo eleitoral e atacavam instituições e autoridades, promovendo instabilidade social e colaborando para a ruptura institucional.

Leia mais: Delação de Mauro Cid implica Michelle e Eduardo Bolsonaro em trama golpista

O papel das Forças Armadas e a resistência ao golpe

A investigação da PF revelou que Bolsonaro apresentou a minuta golpista ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, e ao almirante Almir Garnier, da Marinha. Embora alguns oficiais tenham rejeitado a ideia, outros manifestaram apoio ao plano.

Além disso, a denúncia aponta que Bolsonaro discutiu a possibilidade de prender Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época, para garantir a anulação das eleições. Essa ação seria o estopim para uma escalada golpista, com o fechamento do STF e a militarização do governo.

O 8 de janeiro e a tentativa de instaurar o caos

A invasão e depredação das sedes dos Três Poderes foram o ápice da estratégia golpista. A PGR sustenta que os ataques não foram espontâneos, mas coordenados e financiados por apoiadores do ex-presidente.

Mensagens interceptadas mostram que Bolsonaro e seus aliados monitoravam os acontecimentos e esperavam que a destruição das instituições forçasse uma resposta das Forças Armadas. O fracasso da mobilização militar e a rápida reação do governo Lula frustraram os planos do grupo.

Leia mais: 8 de janeiro, dois anos depois: “Ainda estamos aqui”, afirma Lula

O caminho para a prisão

Agora, a decisão sobre a aceitação da denúncia cabe à Primeira Turma do STF, formada pelos ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux. A expectativa é que Bolsonaro e seus aliados se tornem réus ainda em 2025, iniciando uma nova fase do processo.

Caso condenado, o ex-presidente pode enfrentar penas duras, incluindo a prisão em regime fechado. Além disso, a denúncia agrava ainda mais seu isolamento político, dificultando qualquer tentativa de retorno eleitoral em 2026.

O desdobramento do caso terá forte impacto no cenário político nacional. A extrema direita brasileira precisará reorganizar-se sem seu principal líder. Enquanto isso, Bolsonaro tenta manter sua influência, mesmo sob o peso das acusações.

A denúncia da PGR representa um marco no enfrentamento ao extremismo e na defesa da democracia. O país agora aguarda o desfecho desse capítulo decisivo para garantir que essa e qualquer tentativa de golpe nunca mais fique impune.

Andreazza Joseph
Official Verified Account

Comments

https://www.jornallocal.com.br/public/assets/images/user-avatar-s.jpg

0 comment

Write the first comment for this!

Facebook