Governo do Brasil investe R$ 13 milhões em lavanderias públicas para reduzir sobrecarga das mulheres
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1. Governo do Brasil investe R$ 13 milhões em lavanderias públicas para reduzir sobrecarga das mulheres
O objetivo é estimular o compartilhamento das responsabilidades, a divisão justa do trabalho doméstico e ampliar as possibilidades de participação social e econômica das mulheres. Enquanto as roupas são lavadas, os filhos são acolhidos na brinquedoteca, e homens e jovens são convidados a participar, desconstruindo a ideia de que lavar roupa é “trabalho de mulher". Foto: Mayara Vita/MDS
No contexto do Dia Internacional dos Cuidados e do Apoio, celebrado nesta quinta-feira, 29 de outubro, o Governo do Brasil anunciou a destinação de R$ 13 milhões para a implementação de 17 lavanderias públicas e comunitárias em todo o país. Os espaços estão ajudando a transformar o cuidado em política de Estado.
ESTRUTURA — As lavanderias contam com áreas de lavagem e secagem, sala multiuso para cursos e oficinas, brinquedoteca e recepção. Além da estrutura física, abrigam atividades formativas em temas como economia e divisão justa do trabalho doméstico, além de ações culturais e de lazer, garantindo que o tempo liberado seja reapropriado em aprendizagens, convivência e autonomia. A perspectiva é transformar o tempo consumido pelo trabalho doméstico em oportunidades de estudo, lazer, convivência e formação.
TRANSFORMAR – “As lavanderias públicas são um exemplo concreto de como políticas de cuidado podem transformar vidas. Quando liberamos tempo para as mulheres, estamos devolvendo dignidade, autonomia e oportunidade de participação plena na sociedade. Não se trata apenas de lavar roupas, mas de mudar uma cultura e garantir justiça de gênero”, afirma a ministra das Mulheres, Márcia Lopes.
PLANO NACIONAL – A iniciativa integra as ações do Plano Nacional de Cuidados, criado para garantir os direitos estabelecidos pela Política Nacional de Cuidados, sancionada em dezembro de 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O modelo une eficiência e inovação social com o horizonte de reduzir a sobrecarga que recai historicamente sobre as mulheres. O trabalho é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e pelo Ministério das Mulheres, juntamente com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
TEMPO PARA A CARREIRA — A artesã Isabel Santiago, de 53 anos, realizava a lavagem das roupas diariamente, à mão. Com os equipamentos públicos em Caruaru (PE), primeira unidade inaugurada pelo Governo do Brasil, ela ganhou mais conforto e tempo para investir na venda de seu artesanato. “Eu lavava roupa à mão porque o meu tanquinho estava quebrado. Não sobrava tempo para nada. Quando veio a lavanderia, minha vida mudou, porque lavo todas as roupas em um único dia e tenho o restante da semana para fazer outras coisas, como o artesanato, ir ao médico e aproveitar minha família”.
TROCAS PRODUTIVAS – Segundo a artesã, o momento da lavagem de roupas no espaço comunitário se transformou em oportunidade de troca de experiências com outras mulheres que também usam a lavanderia. “Enquanto as roupas batem, fazemos a limpeza da horta e aproveitamos para colher alimentos como tomate, alface e cebolinha. É uma parte muito legal, porque as mulheres trocam ideias sobre artesanato. As mais experientes ensinam as que nunca fizeram a dar os primeiros passos. Acho que todas conseguem fazer as coisas, basta acreditar. Nós somos capazes de tudo”, disse Santiago.
TEMPO PARA ESTUDOS — Com o uso da lavanderia pública de Caruaru (PE), a auxiliar de educação infantil Ingrid dos Santos, de 39 anos, ganhou mais tempo para se dedicar aos estudos. Casada e mãe de dois meninos, de 4 e 6 anos, atualmente ela consegue dividir o tempo livre entre cursar pedagogia e fazer estágio na área. “A lavagem de roupa é a tarefa que mais consome tempo na vida das mulheres. Eu estava atrasada nos trabalhos da faculdade por falta de tempo, principalmente pelo cuidado com os filhos pequenos. A lavanderia veio para somar, porque sobra um tempinho para cuidar da família e me dedicar aos estudos”, detalhou.
ACOLHIMENTO – As lavanderias públicas também oferecem acolhimento e qualificação profissional por meio de oficinas e cursos gratuitos. “Há algumas mães solo que precisam de ajuda e de uma palavra amiga, e a lavanderia trouxe isso, essa troca de conhecimento e amizades. A comunidade em que vivemos é carente, e esse suporte com cursos faz toda a diferença, principalmente para obter uma renda extra”, celebrou ela.
RESPONSABILIDADE COLETIVA – “O Brasil precisa reconhecer o cuidado como um direito e uma responsabilidade coletiva. As lavanderias públicas mostram que é possível unir eficiência, sustentabilidade e inclusão social em um mesmo equipamento, fortalecendo a autonomia das mulheres e estimulando a participação de toda a comunidade”, destaca Rosane Silva, secretária nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados.
AMBIENTALMENTE CORRETO – Com máquinas de alta eficiência, as lavanderias reduzem o consumo de água e energia e promovem reúso de recursos. Além disso, reduzem os gastos dos domicílios com contas de água e energia. Enquanto as roupas são lavadas, os filhos são acolhidos na brinquedoteca, e homens e jovens são convidados a participar das atividades, desconstruindo a ideia de que lavar roupa é “trabalho de mulher”. O objetivo é estimular o compartilhamento das responsabilidades e ampliar as possibilidades de participação social e econômica das mulheres.
INVESTIMENTOS — A primeira unidade foi inaugurada em maio de 2025, em Caruaru (PE), com investimento de R$ 471,8 mil. Abriga sala multiuso para formações, brinquedoteca, horta comunitária e área de convivência. Também foram firmados convênios para a implementação de duas lavanderias em Petrópolis (RJ), com aporte de R$ 621,8 mil, e outras duas no Piauí (Teresina e Parnaíba), com investimento de R$ 1,3 milhão. Estados como Ceará e Bahia estão em diálogo para receber unidades.
Ao todo, R$ 13 milhões serão investidos para implementar 17 lavanderias em todo o país em uma parceria entre o Ministério das Mulheres e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. A meta é consolidar esses espaços como centros comunitários vivos.
SOBRECARGA LIMITANTE — O peso do trabalho de cuidados no Brasil é expressivo: os dados mais recentes da PNAD Contínua 2022 indicam que as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais a afazeres domésticos e cuidados de pessoas – quase o dobro da média dos homens (11,7 horas). Entre mulheres negras e de baixa renda, as jornadas são ainda mais longas. Entre as mulheres idosas de 60 a 69 anos, a média de horas dedicadas ao trabalho de cuidados é ainda maior, somando 24 horas semanais. Mesmo as mulheres de 80 anos ou mais permanecem cuidando intensamente. Entre elas, estas jornadas são de 17 horas semanais (PnadC, 2021).
O QUE É — As lavanderias públicas e comunitárias se somam a outras ações do Plano Nacional de Cuidados, como as Cuidotecas e o Projeto Mulheres Mil: Trabalho Doméstico e Cuidados. O objetivo é ampliar a oferta pública de cuidado e fortalecer a autonomia econômica das mulheres. Instituída pela Lei nº 15.069/2024 e regulamentada pelo Decreto nº 12.562/2025, a Política Nacional de Cuidados estabelece o cuidado como direito de todas as pessoas e como responsabilidade compartilhada entre Estado, famílias, sociedade civil e setor privado, e entre homens e mulheres.
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